terça-feira, 18 de setembro de 2012

Poesia - Vitória Vasconcelos



A poesia é , da minha pequena alma, as asas
Com ela, minha mente está em pleno voo
Não são asas de cera, nem asas de água
São asas de carne, plumas e da vida, o sopro

Paupérrima é a cabeça daqueles alineados
Que sem a poesia, vêem um mundo bruto e duro
A poesia expande meus olhos, num abraço
Ela é singela, um elógio e um insulto

Poeta não sou, e de poeta, não tenho nada
Nem boca, nem nariz, nem pâncreas
Nem pulmões, rim, língua e garganta
Somente minha pequena e desnutrida alma

Da família, deserdada; da lei, perseguida
Da escola, a suspensa; da rua, atropelada
Dos pensamentos, insana; da lingua, ferina
De isolada, depressiva; de fome, enfraquecida

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Amar - Vitória Vasconcelos



De que vale o dinheiro e a riqueza
Fama, sucesso, carros e glamour?
De que vale mansões, brasão e nobreza
Se em teu ser, não abrigares o amor?

Que vida fútil e banal, eu teria
Seria como caminhante sem estradas
Seria com um palhaço sem alegria
Seria como um músico sem guitarra

Amar, esta é a minha grande vocação
Viver intensamente, no amor, abandonada
Semeiar a fraternidade, a paz e a gratidão
E do amor, está cegamente enamorada

Amor, razão das maiores loucuras
A terrível algoz de Romeu e Julieta
Razão de Francisco amar as criaturas
É a forte coluna que os sonhos sustenta

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Morte - Vitória Vasconcelos



Vem, ó morte, vem de encontro aos meus braços
Vem correndo e ligeira bater em minha porta
Beijar minha boca e esconder-me no teu abraço.
E carregar-me e levar-me nua e já morta.

Chegas bailando e rodopiando uma canção francesa
Me fita com olhos devoradores e bastante vivos
Oferece-me uma xicara de café numa mesa
Teu sorriso irônico é o ponto onde mais fito

Vestindo retalhos vermelhos, faz-me adormecer
Me ver a dormir com olhos amorosos e fatigados
Canta uma canção de ninar até o amanhecer
Aonde acordarei nova, disposta e sem cansaços

Correremos na matina até alcançar o céu
Que se localiza logo ali no horizonte
Beberemos o vinho tinto misturado ao fel
E com pão, matarei e saciarei a fome

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Louca - Vitória Vasconcelos


Sou aquela que estou voando enquanto vocês andam
Eu que cruzo os braços durante saudação nazista
Diferente de vocês, olho para luz que da fonte emana
Que em meio ao caos, conservo-me um tanto otimista

Sou como fonte de água que jorra e transborda
Não como uma bacia d'água, parada e paralítica
Não procuro ser normal, isto muito me incomoda
Quero ser louca e viver intensamente esta curta vida

Não me importo com comentários e as zombarias
Pobres infelizes são eles que, alienados, são vazios
Sou a louca que na rua, ao violão, canto às 2 da matina
Sempre novo e transformado, quero ser como um rio

Sou aquela que num salão vazio, baila sozinha
Rodopio, cantarolo, giro meu corpo rumo à liberdade
Escutando Mutantes, voou livre e colorida
Fugindo incessantemente dos padrões da normalidade

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Vida - Vitória Vasconcelos



Viver... como sabê-la, sem arriscar?
Ela é um momento que passa correndo em segundos
É passageira, um pequeno extâse que logo despertamos
Tão rápida como um mergulho na imensidão do mar

Quão preciosa é esses segundos de vida
E a gastamos com coisas superflúas e desnecessárias
Vivemos aprisionados no nosso mundo tão egóista
Viver é dar-se ao outro, esquecer-se de si

Viver é simples, complexo é compreendê-la
Vale a pena cada lágrima derramada
Cada sorriso, cada sofrimento, cada sacrificio
Pois ao fim, vem a moral da história

Vivamos intensamente cada minuto
A vida é breve e a morte, imprevisível
O que é viver, senão correr para os braços da morte?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Canto Para A Minha Morte - Raul Seixas



Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã? Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro? Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas...
Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...
Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

quarta-feira, 28 de março de 2012

Conversa de Botas Batidas

Essa canção é uma das minhas favoritas dos Los Hermanos, a letra e a melodia são de uma beleza incrível. Mas, o que é de mais belo e apaixonante nessa canção é que a letra, composta por Marcelo Camelo, é baseada numa história real acontecida no Rio de Janeiro simplesmente emocionante.
A história é o seguinte:
Em 25 de setembro de 2002 aconteceu no centro do Rio um desabamento de um prédio antigo onde funcionava um velho hotel, chamado Hotel Linda do Rosário. Entre os escombros os bombeiros encontraram os corpos de dois velhinhos abraçados e um tempo depois ficou sabendo que eles foram namorados na juventude e por causa desses caminhos loucos da vida eles se separaram e só se reencontraram muitos anos depois, mas decidiram viver seu amor. Mas a família era contra esse relacionamento, então eles começaram a se encontrar escondidos nesse hotel. Um dia o prédio deu indícios de que iria desabar, então os empregados foram batendo de porta em porta para os clientes saírem. Porém há controvérsia na morte do casal. Uns acreditam que eles temiam ter sido descobertos e não quiseram sair, e outros acreditam que eles cansados de fugirem, decidiram morrer juntos, e ficaram até o fim como amantes. Essa segunda versão foi escolhida por Marcelo Camelo para escrever essa bela letra.

-Veja você, onde é que o barco foi desaguar
-A gente só queria um amor
-Deus parece às vezes se esquecer
-Ai, não fala isso, por favor
-Esse é só o começo do fim da nossa vida
-Deixa chegar o sonho, prepara uma avenida

Que a gente vai passar

Veja você, quando é que tudo foi desabar
A gente corre pra se esconder
E se amar, se amar até o fim
Sem saber que o fim já vai chegar
Deixa o moço bater
Que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos
Pra um amor de tantas rugas
Não ter o seu lugar

Abre a janela agora
Deixa que o sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
Que estamos sós no céu
Abre as cortinas pra mim
Que eu não me escondo de ninguém
O amor já desvendou nosso lugar
E agora está de bem

Deixa o moço bater
Que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos
Pra um amor de tantas rugas
Não ter o seu lugar

Diz, quem é maior que o amor?
Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora
Vem, vamos além
Vão dizer, que a vida é passageira
Sem notar que a nossa estrela vai cair